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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Ele são muitos...

era um casal desses de gerar comentários. Par perfeito, os vizinhos falavam. Dois filhos, sete anos de casamento. Nada de brigas. Ele provia a casa e ela cuidava da casa e das crianças. Ele a adorava. Ela resolveu trabalhar depois dos filhos crescerem, como  faxineira. Ele concordou. Trabalho pesado, ele não teria ciúmes. Ela trabalhava fora mas chegava em casa e punha tudo em ordem: roupa cuidada, comida quente na mesa. Ele elogiava. Ela acordava mais cedo pra dar conta de tudo. Ela não se cuidava, cuidava antes de todos. Ele gostava do jeito dela, e os vizinhos comentavam: que exemplo de casal. Iam à igreja, não deviam na praça.Ela andava de cabeça baixa, sempre satisfeita e cansada. Presente de natal e de casamento, nenhuma data esquecida.  Tudo ia muito bem, além do normal. Até que ela foi promovida no emprego. E ele suspeitou que ela tinha outro, porque certamente desconfiava que ela não era capaz. Ele não a amava, a dominava. E no primeiro sintoma de perda do controle, quis matá-la. Numa tarde, a seguiu. Atirou três vezes, pra matar. Saiu como quem vai comprar cerveja, deixando-a com o corpo estendido no chão. Não bastava. Foi à procura do patrão e atirou à queima roupa.
Quem é ele? mais um homem que achou ter domínio sobre a vida da mulher. Não a amava, a possuía. Quem é ele? Mais um homem que não admite a liberdade e a independência da mulher. Mais um que não admite (!) ser contrariado. Ele não a amava, a aprisionava. Quem é ele? Mais um homem que numa tarde incorporou o pressuposto de que quem manda é o homem e de que traição e "desobediência" (!) feminina se resolve com tiro.

Se ela o traiu? o que importa? se sim, se não, qual a diferença? que tipo de argumento dá a alguém a condição para pôr fim a uma vida que não a sua?

Quem era ele? Quem era ele? perguntaram os vizinhos.
Ele são muitos, e pode estar em qualquer parte. Não é facilmente reconhecível a olho nu.

E nós, mulheres, historicamente subjugadas, ainda temos que provar que não somos menos porque somos ternas. Sou delicada, mas não sou frágil. Sou mulher e tenho dois meninos. E o compromisso urgente de educar para um mundo mais igual entre gêneros e com mais amor baseado no respeito e admiração.

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