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segunda-feira, 21 de maio de 2012


FEIJOADA À MINEIRA - DRUMMOND

Uma velha e perfeita cozinheira a quem pedi a fórmula sagrada
Da feijoada à mineira,
Mandou-ma. Ei-la: "Receita de feijoada -
Tome coisa de um litro de feijão
Preto, novo, sem bicho,
E, depois de catado com capricho,
Jogue no caldeirão.
(Com feijão que não seja preto é à toa
tentar fazer feijoada.
E se teimar, não cuide que sai boa;
Sai não valendo nada.)
Quando estiver o caldeirão fervendo
Ou antes, deite o sal,
As mãos de porco, orelhas e, querendo
Focinhos e rabo; isto (está claro) tendo,
Porque não tendo é o mesmo, não faz mal.
Se, além desses preparos, deitar nela
Linguiça e mais um osso de presunto,
Só o cheiro da panela
Faz crescer água à boca de um defunto.
Eu já ia me esquecendo (que memória)
Da carne seca e da couve.
Feijoadas sem elas, qual! É a história...
Não há nem nunca houve.
Depois de tudo bem cozido, a ponto,
Machuque bem um pouco do feijão
E pronto.
Mas machuque só a parte que senão,
Em vez de feijoada sai pirão.
Eis, aí está o prato preparado...
Minto: falta ainda o molho
Que embora simples é o segredo o escolho De muito bom guisado.
O molho faz-se com vinagre, ou então,
(Para sair a coisa mais completa)
com suco de limão
e bastante pimenta malagueta.
Sal, ponha quantum satis.
Não vai ao fogo nem ligeiramente,
Exceto se levar também tomates,
Cebola, ou outro que tal ingrediente.
Co/a feijoada, a clássica, a mineira É compulsório o uso da farinha.
Como bebida, um trago de caninha.
Há quem regue o vinho; mas é asneira.
Quanto à caninha fala-se
Ou não se fale, a mim é indiferente.
Eu tenho a firme opinião que um cálice
Nenhum mal faz à gente."
Eis aí a receita.
Publico-a sem responsabilidade.
Experimentem, se sair bem feita
E eu, no dia, estiver nessa cidade...
Não insinuo nada:
Apenas lembro que ninguém rejeita
Convite para almoço de feijoada.

Eu quero o que me compensa, o que me liberta; não o que me detona e aprisiona. 
depois que escrevi o texto da mulher contemporânea recebi vários emails de mulheres dizendo que servi de porta voz. Cada uma delas disse que imaginava estar sozinha nesse tipo de pensamento. E não!!! somos muitas, não somos poucas. O que a mídia faz é que nos achemos frustradas, insatisfeitas ... eternamente em busca de não se sabe o quê... precisamos abrir o peito e declarar nossas escolhas sem culpa. importa o que é bom pra você; experiências dos outros são válidas mas não devem ser o norte das nossas próprias escolhas. o texto é um porta voz de muitas mulheres que não querem ser capa da veja às custas de saúde e família detonadas.  Sei do meu valor profissional mas eu não quero ser aquelas mulheres da capa e "eles" vendem a idéia que toda mulher atual tem que ser aquilo ali, vendem a imagem distorcida do que é sucesso.  Sucesso tem a ver com felicidade. Eu sai da roda... sem culpa nem apego. Não me importo com  essa corrida desvairada. Não estou apostando corrida com ninguém. Eu quero o que me compensa, o que me liberta; não o que me detona e aprisiona. 

domingo, 20 de maio de 2012


"mover-se com a máxima amplitude
dentro dos próprios limites"

Mario Quintana

irei até onde posso, mas como saber até onde posso ir? somente indo, somente chegando perto do máximo para, depois, sabiamente, recuar. é preciso se respeitar, lembra o poeta. é preciso respeitar os poetas. 
Andréia 


devaneio: vida louca da mulher contemporânea, carreira, família e afins... pára que eu quero descer, eu quero é mais prazer

semanas atrás na capa de Veja: Super Chefonas: mulheres que conseguiram conciliar profissional e pessoal. Parece uma piada. Uma das superpoderosas disse que nunca deixou de participar da festinha de aniversário do filho, nem de ir junto à visita ao pediatra. Coitada, pra ela isso é conciliar vida profissional e pessoal? dá pra perceber quem sai perdendo nessa história? não só os filhos, mas ela própria. E também toda a sociedade. Outra piada: a outra chefona diz que é preciso organização, como por exemplo contar com a ajuda de vários funcionários em casa, como babá, motorista e cozinheira. Eu diria que é preciso muito dinheiro e ausência familiar, não exatamente organização. Mais uma: uma delas acha que concilia porque consegue ir a aula de tenis 2 x na semana... ha ha ha!!! Seria cômico se não fosse trágico.  Para cada "chefona capa de Veja" há mais de mil operárias mulheres que trabalham o dia todo e se multiplicam para estar em todos os lugares ao mesmo tempo. e que chegam cansadas em casa, cheia de coisas pra fazer ainda. e se acham feias e se cobram todos os dias porque não economizam e fazem uma lipo. mulheres que deixaram pra ser mãe mais tarde porque precisavam da carreira engrenada e que, agora, precisam viajar e deixar os filhos em casa por 4 dias. e que acabam chegando atrasada na festinha da escola mesmo tendo deixado o relatório do trabalho sem fazer. e que não acham babá e põem os filhos de meio ano na escola por falta de opção e não exatamente para socializar como queremos acreditar. e que se cobram que precisam estudar mais pra ganhar mais. e que não conseguem fazer a unha durante uma semana inteira e cortam o cabelo pra gastar menos tempo com isso. mulheres que encabeçam a lista dos que usam antidepressivos e que mais morrem dos problemas cardíacos a cada ano. mulheres que acham que as coisas têm que ser assim, porque todo mundo tá fazendo assim... mulheres que engordam por ansiedade. mulheres que não conseguem parar e descer dessa roda  chamada Vida Louca da Mulher Contemporânea.a coisa é que não dá pra ser tudo. quem disse que temos que ser tudo isso? NÃO às  convenções! danem-se elas. Vamos encontrar nossos limites, percebê-los, respeitá-los para que possamos ganhar a vida sem perder a vida.
Para a vida familiar estão sobrando os restos de tempo e atenção. E, mesmo que tentemos impor qualidade à eles, ainda que com a "organização das chefonas de Veja", não deixarão de ser restos. Eu não quero restos, minha família não merece meus restos. Mas pra isso também não posso querer ter tudo, nem ser tudo. preciso usar da minha concentração profissional para defender minha vida pessoal. preciso, antes, avaliar o que quero e que modelo quero seguir. e não aceitar modelos prontos só porque a maioria assim o faz...


15 de maio foi o dia da família;  a leitura de Veja e a comemoração da data me dispôs a escrever o texto acima. tenho presenciado histórias reais de mulheres reais cujos exemplos estão aí em cima. O buraco é bem fundo. A roda gira em alta velocidade. Gritemos à tempo: pára que eu quero descer!!!pára que eu quero descer!!!

Andréia Moutinho Gileno